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A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA: perspectiva crítica

A Psicologia, tendo muitos anos de existência, onde o marco para  sua instituição enquanto ciência é 1875, encontra condições para sua construção no século XIX, onde a burguesia moderna ascende como classe social e as transformações decorrentes são consideradas condições históricas para o surgimento da ciência moderna, onde um método científico rigoroso permitia ao cientista observar o real e construir um conhecimento racional, sem interferência de suas crenças e valores, surgindo a ciência moderna experimental, empírica e qualitativa.

            O positivismo, dando ênfase na razão, se pautou na idéia do funcionamento regular do mundo, onde as idéias se organizam na mente de forma a permitir associações que resultam em conhecimento; atomista, pela certeza de que o todo é sempre o resultado da organização de partes; e determinista, porque pensou o mundo como um conjunto de fenômenos que são sempre causados, onde a relação de causa-efeito pode ser descoberta pela razão humana.

            Em 1875 Wundt (1832-1920) via o pensamento humano, como produto da natureza e como criação da vida mental, concebia o indivíduo como criatura e criador, onde a Psicologia, já em seu nascimento, carregava as contradições do homem, sem que fossem percebidas. Em um método dialético, surgiu duas Psicologias: Psicologia Experimental e Psicologia Social, para resolver as dicotomias natural e social; autonimia e determinismo, interno e externo.

            Todas as abordagens: Comportamental, Gestalt, Psicanálise, se constituíram com esforços para que a ciência psicológica pudesse dar conta de compreender o homem em seu contato com o mundo real, mas nenhuma delas, superou as perspectivas mecanicistas e deterministas presentes em Wundt. Mecanicistas: pressupõe uma regularidade no humano (máquina) podendo ser desenvolvido e conhecido. Determinista: pressupor causas para o “efeito homem” (o homem com estruturas ou mecanismos prontos que permitem seu funcionamento regular enquanto ser humano).

            As diferenças que entre as várias perspectivas teóricas vão aos poucos sendo construídas, ocorrendo no balanço do pêndolo: interno/externo; psíquico/orgânico; comportamental/vivências subjetivas; natural/social; autonomia/ determinação. Em qualquer dos dois lados do pêndolo, a compreenção do fenômeno psicológico é incompleta, pois fica sempre faltando o outro lado, onde não podem mais ser vistos como oposição um ao outro, pois enquanto não assumirmos esse movimento, não avançaremos na sua compreensão.

            A Psicologia Sócio-Histórica de Vigotski (1896-12934) apresenta-se como uma possibilidade de superação dessas visões dicotômicas, onde carrega consigo a possibilidade de crítica, por seus fundamentos no marxismo, e adota o materialismo histórico e dialético como filosofia, teoria e método, onde concebe o homem como ativo, social e histórico. A sociedade, como produção histórica dos homens que, através do trabalho, produzem sua vida material. As idéias, como representação da realidade material. A realidade material, como fundada em copndições que se expressam nas idéias, e a história, como movimento contraditório constante do fazer humano, no qual, a partir da base material, deve ser compreendida toda produção de idéias, incluindo a Ciência e a Psicologia.

            O liberalismo, ideologia fundamental do capitalismo, nasceu com a revolução burguesa para revolucionar a ordem feudal e instituir-se para garantir a manutenção da ordem que se instalava. A burguesia constituiu as idéias liberais para se opor a ordem feudal: um mundo de fé e dogmas religiosos ofereciam aos homens idéias prontas e valores a serem adotados. Um mundo que desconheceu individualidades, impedindo que os sujeitos se constituissem como tais. Como oposição a essas idéias do feudalismo, a perspectiva liberal tem como um de seus elementos centrais a valorização do indivíduo: individualismo.

            Cada indivíduo é um ser moral que possui direitos derivados de sua natureza humana. Somos indivíduos e somos iguais, fraternos e livres, com direitos a propriedade; a segurança; a liberdade e a igualdade. O indivíduo estava no centro e poderia e deveria se movimentar. O capitalismo precisava do indivíduo, como ser produtivo e consumidor. E neste mundo, agora incerto, o homem se viu diante da possibilidade de ser, de pensar e de fazer. Escolher entre várias possibilidades e escolher diferentemente de outros, permite desenvolver uma noção de indivíduo e, consequentemente, uma noção de Eu entre os homens. Noção de vida privada.

            As casas modificam sua arquitetura para reservar aos indivíduos locais privados. A vida do trabalho sai da casa para fábrica, modificando o caráter de vida pública. A noção de Eu e a individualização nascem e se desenvolvem, com a história do capitalismo, onde a Psicologia se torna necessária para estudar esse fenômeno. As idéias “naturalizadoras” do liberalismo serão responsáveis pela concepção de fenômeno psicológico que se tornará dominante na Psicologia, onde o psicólogo possui os instrumentos e conhecimentos para contribuir no conhecimento desse fenômeno e na sua reestruturação.

            As capacidades humanas devem ser vistas como algo que surge após uma série de transformações qualitativas, onde o fenômeno psicológico é uma construção no nível individual do mundo simbólico, que é social. Subjetividade e objetividade, onde a linguagem é mediação, o mundo é um mundo em relação dialética com o mundo real. É na relação com o mundo material e social que se desenvolvem as possibilidades humanas. A transformação das idéias particulares da classe dominante em idéias universais de todos e para todos os membros da sociedade, é abstrata porque não corresponde a nada real e concreto. No real existem concretamente, classes particulares e não a universalidade humana. As idéias da ideologia são universais abstratos.

            A Psicologia Sócio-Histórica, de uma forma crítica diz: A Psicologia tem sua história “colada” aos interesses dos grupos dominantes, produzindo conhecimentos e traduzindo-os em uma Psicologia aplicada, permitindo o aumento do controle sobre os grupos sociais, a ampliação da capacidade produtiva dos trabalhadores, a distribuição de crianças de forma homogênea ou heterogênea nas classes para garantir aprendizado e disciplina, a relação do homem certo para o lugar certo, a higienização moral da sociedade, o controle do comportamento, a classificação e a diferenciação.